Reportagem: Lívia Laudares / Fotos Pacheco de Souza
Carregando cartazes e aos gritos “ei vereador queremos nossa pista”, skatistas lotam a Câmara de PL
Aos gritos de “ei vereador queremos a nossa pista” cerca de 40 skatistas do Projeto Social Famíllia Pró-Skate, indignados com a demora na construção da Pista de Skate Plaza, protestaram durante a reunião ordinária da última segunda-feira (29-05). A obra foi aprovada na gestão passada e o convênio liberado, mas a equipe do Prefeito Cristiano Marião alega ter encontrado erro na planilha de custo do projeto. Não havendo possibilidades de fazer adequações no projeto original, não está descartada uma nova licitação.
Segundo a Família Pró-Sakate a obra deveria ser inaugurada no próximo dia 10 de junho, mas se quer foi iniciada. Na segunda-feira, 05 de junho, o Secretário de Cultura Esporte e Lazer, Daniel Costa, fará um pronunciamento na reunião da Câmara de Vereadores para apontar as irregularidades encontradas no projeto.
SOBRE O PROJETO SOCIAL
O Projeto Social Família Pró-Skate começou há quinze anos atrás, e desde então, ensina o esporte às crianças e adolescentes da cidade de Pedro Leopoldo e municípios vizinhos. O Skate é o segundo esporte mais praticado no mundo, perdendo somente para o futebol. Atualmente os organizadores do projeto utilizam o estacionamento da Prefeitura Municipal, que está longe de ser o lugar ideal para a prática da modalidade. Em oportunidades anterior um dos organizadores declarou que “com o apoio de Deus e dos próprios participantes conseguimos desenvolver nosso trabalho”.
Sérgio Campolina (centro da foto) diz que projeto aprovado atende aos anseios dos skatistas
A Equipe do Portal Mix Notícias apurou sobre a demora na entrega desta obra e a reportagem traz várias versões dos envolvidos no processo de planejamento, liberação e construção da Pista de Skate. Acompanhe a seguir:
VERSÃO DA SECRETARIA DE CULTURA E ESPORTE
O Secretário de Cultura, Esportes e Lazer, Daniel Costa Reis, garantiu que é interesse do governo municipal entregar a obra aos munícipes. “Não é, de maneira nenhuma, interesse da atual gestão fazer picuinha ou qualquer tipo de ação contra a pista de skate por ela ser da antiga gestão, o nosso objetivo está com a responsabilidade”, disse em entrevista à Rádio PL FM na última quarta-feira (31)..
O Secretário explicou que há problemas por trás da demora, como por exemplo, o bloqueio do CNPJ da prefeitura junto ao Governo Federal, o que impede o muniípio de receber recursos federais. “ Hoje nós penamos o amargor de estar bloqueado no Governo Federal devido a não prestação de contas do Memorial Chico Xavier que, foi feito de maneira irresponsável e equivocada, de maneira a deixar para o próximo resolver o problema, isso desde meados de 2016 o nosso município não pode receber recursos federais, estamos bloqueados”, afirmou.
Apesar dos problemas Daniel garante a execução da obra, mas afirma haver irregularidades no projeto que foi aprovado. “As ações estão sendo feita de maneira organizada e responsável. Vamos fazer a pista de skate? Vamos. Irei levar à Câmara dos Vereadores na segunda-feira (05) documentação contradizendo as palavras da gestão anterior que diz que o terreno onde será contruída a pista de skate é da prefeitura. Para se fazer a pista de Skate você precisa ter um local adequado e um estudo topográfico, mas segundo a empresa licitada, não teve estudo topográfico do terreno, sendo assim, é necessário um aterramento que não está na planilha. Se o aterramento não está na planilha, se a demolição da antiga pista está na planilha como 10m² sendo que ela é exponencialmente maior do que isso, a planilha pode estar correta?”, explicou Daniel.
“O nosso Secretário de Obras, o Bamba, foi responsável ao tomar a decisão de paralisação da pista de skate, ele tem o meu apoio, e eu estou com ele quando digo que paralisamos por responsabilidade. Esta gestão não apenas irá concluir a pista de skate de skate, ela será concluída com responsabilidade, com transparência e de uma maneira que não prejudique a cidade. Precisamos do prazo para normalizar a situação, eu já estou em contato com vários órgãos responsáveis para que possamos providenciar que tudo seja feito da maneira adequada”, disse.
Sobre a mudança de local, discutida pelos cidadãos nas redes sociais, o Secretário de Cultura e Esportes Daniel Costa Reis admite que há uma possível flexibilidade em relação ao projeto original. ”A gente pode mudar de lugar? Sim! Houve estudos de outros locais, mas entendemos que a necessidade e a vontade da população é que seja na Praça da Estação, precisaremos arredar uns 20 a 35 metros para próximo da biblioteca, para que não haja a necessidade de fazer um aterramento, isso para evitar que seja construído um muro de mais de 2 metros na praça da estação, que é um monumento da nossa cidade”, declarou.
VERSÃO DA EX-PREFEITA ELOÍSA HELENA
A ex-prefeita Eloísa Helena também compareceu aos estúdios da Rádio PLFM na quinta-feira (01/06) e comentou ponto a ponto a entrevista do Secretário de Cultura e Esportes, Daniel Costa. Eloísa garantiu a transparência do processo de transição governamental e declarou que é inexistente a possibilidade da gestão atual alegar desconhecimento da situação deixada por sua gestão, que entregou os cofres públicos em superávit devido a uma multa de repatriação paga ao município, que acabou por aliviar os efeitos da crise vivida em todo o país.
Sobre a situação do Memorial Chico Xavier, Eloísa comentou que ao assumir o cargo teve conhecimento da pendência deixada por seu antecessor em 2007. Sendo assim, ela trabalhou e procurou autoridades que pudessem auxiliá-la na regularização da situação de Pedro Leopoldo, além de dar continuidade à obra. “Ao invés de ficar falando do problema do Memorial, eu fui atrás! Consegui retomar as obras do Memorial, fui à Brasília várias vezes, no Ministério do Turismo, e cada vez que íamos era um ministro diferente, foi passando e infelizmente não consegui o que queríamos, que era ter um circuito turístico e religioso para homenagear o grande Chico Xavier, nosso conterrâneo. Infelizmente não consegui, mas a atual gestão tem que correr atrás, infelizmente eu saí, mas quem tá agora tem que trabalhar. Nesse processo o CNPJ foi bloqueado algumas vezes, e nosso jurídico trabalhou e conseguiu desbloquear. Vão! Mãos à obra!”, encorajou.
Sobre as irregularidades no projeto Eloísa esclarece que aprovar um orçamento desta proporção pede um trabalho minucioso, que foi desenvolvido em sua gestão. “A pista foi elaborad e foi planejada juntamente com os skatistas. Para você conseguir a liberação de um recurso você tem que ter um projeto aprovado e aprovado pelo Estado, se ele já está aprovado e a documentação já está toda lá é porque não tem nada de errado. Toda licitação tem uma margem porque você nunca sabe o que vai acontecer durante a obra. Toda licitação de obra é assim, se acontece algum imprevisto você tem como fazer um aditivamento no contrato. Na minha gestão fui assessorada por pessoas competentes, profissionais e muito dedicados”, reiterou a ex-prefeita acrescentando que contou com o apoio do Presidente da Assembleia Legislativa de Minas, Deputado Estadual Adalclever Lopes.
Ela ainda esclareceu que o terreno onde será construída a Pista de Skate Plaza é da Prefeitura de Pedro Leopoldo. “Quando entramos o município pagava à União R$ 7 mil e seiscentos reais de aluguel pela Biblioteca, por achar isso um absurdo, entramos com um processo administrativo e quando conseguimos a cessão do terreno faltava a SPU (Superintendência de Patrimônio da União) dar um documento, e já saiu no Diário Oficial em meados de 2014, e a partir daí não tinha mais que pagar os aluguéis. O local foi escolhido justamente porque todos veem e sabe que às vezes ali está sendo utilizado para atos não lícitos, com a pista ali fica mais fácil para os pais acompanharem os seus filhos. Nós conversamos com os skatistas e o projeto foi feito e aprovado ali, agora quero alertar que se demorarem muito esse recurso volta para o estado, e aí o município vai ter que arcar com tudo”, alertou.
Para a ex-prefeita, arredar a pista para próximo da biblioteca obra é uma das provas da inconsistência do discurso da gestão atual sobre a estação não ser posse municipal. “Está tudo pronto, medido e aprovado. Falam que não é do município! Por isso que falo que é absurdo. Ali está pronto para fazer a Pista Plaza de Skate. Mostraram um município de sonhos, ganharam lindamente e falaram que faltava vontade política, tem seis meses que lá estão, já entraram sabendo de tudo, cadê?”, alfinetou a ex-prefeita.
VERSÃO DA FAMÍLIA PRÓ-SKATE
Sérgio Campolina fundou a Família-Pró Skate (FPS) há mais de 15 anos, e é esse mesmo tempo que o skatista espera a construção de um espaço para a prática do esporte na cidade. “É uma falta de respeito. A pessoa cobra saúde, segurança, educação, mas esquece que para cobrar isso tem que investir nas nossas crianças e no esporte. Se tivéssemos a pista teríamos centenas de crianças andando de skate, iria ter família envolvida com skate e automaticamente a criança estaria se desenvolvendo. Como você quer ter saúde agarrado em um tablet ou um computador em casa? Se a pista não for para a população para quem será?”, questiona Sérgio.
O coordenador da FPS relata que a cobrança sobre o andamento do projeto já tem sido feita a algum tempo, mas que as respostas nunca foram conclusivas. “Não sei quantas vezes já vim na câmara, o grito fica entalado na garganta, com as leis do Brasil, com os nossos políticos, infelizmente tem que ser no grito. Por isso que hoje nós viemos para gritar e para deixar o grito que está no nossa garganta. Sol a sol na Praça da Prefeitura, carregando palco, fazendo palestra educativa para criança sem ter água, sem banheiro, sem infra-estrutura, então nós viemos aqui para gritar mesmo”, reiterou.
Sobre o diálogo com a atual gestão Sérgio é incisivo. “Eles me dão um prazo, mas eu tenho crianças que eu não posso dar o mesmo prazo. Eu sou adulto, se não tem pista aqui eu vou para Belo Horizonte, mas quero ver explicar para essa criança que ela vai ter que esperar.”, questionou.
O que preocupa o coordenador da Família Pró-Skate, Sérgio Campolina, é a vitalidade do projeto. “Se a cidade não tiver uma dinâmica para a criança e o adolescente, outras coisas tem. Já perdi inúmeras crianças por não ter estrutura. Às vezes saem de Pedro Leopoldo para disputar campeonato de outras regiões e chegando lá é pista de skate, eles não tem pista e ficam em último. Com muito custo consegui trazer cinco primeiros lugares para PL. Hoje temos 100 alunos na fps, cada dia vai mais, mas cada dia saem. Pedro Leopoldo conta com uma pista de skate que não atende à modalidade praticada no município, já para esse projeto Sérgio conta que a opinião dos usuários foi levada em consideração. “O projeto é lindo. É um skate plaza, uma pista de país de primeiro mundo. Uma das melhores pistas da região! Essa é a interrogação que fica para todo mundo, se o dinheiro tá lá. Antes era por culpa do engenheiro, antes era por culpa do projeto. Porque a pista não saiu?”.
Leandro Pacheco Moreira é morador do bairro Santa Rita e começou no esporte aos 12 anos. O atleta que ensaiou as primeiras manobras aos cinco anos de idade conta que conseguiu alguns patrocínios, inclusive já foi ao exterior por conta do esporte. Leandro afirma que encontra barreiras na cidade para conseguir aprimorar os conhecimentos adquiridos. “Não tem como a gente treinar, não tem como a gente dar continuidade nisso. Os meninos chegam até um certo patamar, mas precisa de mais coisas para poder treinar, para que daqui a algum tempo saia bastante profissional aqui da cidade. Se essa pista sair, vai virar um ponto turístico, é um projeto maravilhoso”, afirma.
Durante o processo de discussão sobre a viabilidade da construção da nova pista os esportistas foram questionados sobre a não utilização da pista que já existe na praça da estação. “Aquela pista é para uma categoria diferente. É uma categoria mais louca, e essa pista que a gente espera há todos esses anos é da modalidade street. Deveria ser um ambiente natural, com bordas, rampas, corrimão escada, onde a gente pode praticar o nosso esporte”, explicou. Sobre a atual condição de funcionamento do projeto Leandro explica que a situação é precária. “É uma luta conseguir manter obstáculo de madeira e cantoneira, onde essas crianças praticam o esporte no asfalto, com risco de machucar. Os pais sentem medo de deixar o filho praticar o esporte”, alegou o skatista que ainda destaca uma situação similar, em São Paulo, quando um jovem morreu ao praticar o esporte na rua, enquanto aguardavam a liberação de uma pista de skate para a prática correta.
VEREADORES
O vereador Leozão não escondeu a indignação com o possível postergar dos prazos. “A gente tem ficado um pouco triste, porque as coisas iniciaram na gestão passada e estão arrumando um tanto de defeito, um tanto de problema, os quais patrícia Rafael já prestou conta, inclusive em redes sociais e em reuniões de Câmara. A licitação da época tinha um montante de 600 mil e a Artecim ganhou a concorrência por 472 mil, um valor abaixo do previsto para a obra. E até então a obra está parada”, relatou.
Leozão ainda alerta para o aumento do prazo caso seja aberto um novo processo de licitação. “Se for ter uma nova licitação o pessoal da Família Pró-Skate pode esperar essa pista para o ano que vem, esse ano não sai mais não, porque nós sabemos os prazos de edital no sistema para que as empresas possam vir concorrer, temos que respeitar a Lei 8666 que é a lei de licitação, mas se já existe uma empresa que ganhou e está apta para prestar o serviço, porque largar esses jovens aguardando mais anos, sendo que já aguardam entre sete, oito anos? Deixo essa pergunta ao executivo, não sei se serei feliz na minha fala, mas parece uma certa picuinha política e com isso quem tem a perder é o povo”, declarou.
