Por Gefferson Silva / Fotos: Pacheco de Souza
Bom dia caros Pedroleopoldenses,
Me chamo Gefferson G.R. Silva. Sou nascido e criado em nossa digníssima cidade, da qual tenho tanto orgulho. Ambientalista de natureza, Biólogo em formação. E atualmente, membro do corpo gestor da APDA (Associação Pedroleopoldense de Defesa do Ambiente). Depois de tantas definições gostaria de compartilhar com vocês caros leitores e moradores de Pedro Leopoldo, minha grande angústia, aflição, agonia, indignação, decepção, desilusão, tristeza, em relação ao lento e constante martírio que aplicamos aos nossos gloriosos Ribeirão da Mata e Ribeirão das Neves.
Moro na Avenida Cauê, a 2 minutos do Ribeirão da Mata e a 5 minutos do encontro desses dois cursos d’água e por volta dos meus 3 anos de idade ia com meu avô quase todos os dias da semana pescar, onde tal ritual foi levado até meus 13 anos, época em que comecei a trabalhar em um carrinho de cachorro quente na cidade. Nesse intervalo de tempo pude acompanhar o imenso sofrimento pulsado por esses dois ribeirões através da frenética poluição em seus leitos: Incêndio criminoso nos fragmentos florestais que encontra suas nascentes que os alimenta; o descaso, comodismo e ingratidão da grande maioria da população local, abandono da gestão pública e outros. Sofrimento o qual foi refletido na diversidade de espécies e na abundância dos peixes que neles vivem; inúmeros eventos de mortalidade em massa de peixes e outros animais; mau cheiro; redução dos seus leitos; escurecimento de suas águas; supressão (corte) de suas matas de galeria, entre grandes outras variedades de sintomas.
Mas, muito mais decepcionante ainda, que fui forçado a digerir ao longo de minha infância, foi a descoberta em uma dessas pescarias, que ali, naqueles dois ribeirões, ter sido lar de uma variedade de peixes, aracnídeos, insetos, microorganismos, flora aquática e de galeria, aves, mamíferos, répteis, anfíbios, ecossistemas, enfim, de uma biodiversidade 5,10,15,100,1.000 vezes maior do que eu pude observar nesses 18 anos de convívio com os mesmos. E mais, fui obrigado a ser torturado pelo meu avô e seus amigos, pela minha mãe, e por alguns vizinhos e conhecidos, com suas lembranças de infância, contadas em varias conversas, de como era bom NADAR e BRINCAR nas águas desses cursos d’água, onde os mesmos possuíam águas cristalinas e potáveis.
Mas, mesmo com tantas decepções e desilusões ainda me resta esperança na sobrevivência desses ribeirões. Esperança que vem sendo reforçada quando vou para a Faculdade e passo pelo Ribeirão da Mata para pegar o ônibus, quando estou no meu quarto por volta das 18h e escuto a Saracura-três-potes (Aramides cajanea) cantando; ou quando vou para a sede da ONG e passo pela rua do asilo e por vezes vejo alguns animais resistindo a esta imensa devastação e destruição de seus habitats como o Garibaldi (Crysomus ruficapilus) aninhando em um emaranhado de cipó, o Periquito rei (Aratinga áurea) vocalizando nas copas das pouquíssimas árvores que ali restaram, o Biguá (Phalacrocorax brasiliensis) brigando com as águas sujas e oleosas em busca de um pescado, o Petrim (Synallaxis frontalis) em busca de alguns insetos que resistem ao caos que persiste por ali, o João-graveto (Phacelodomus rufifrons) cantando em um galho seco para marcar seu pequeno território, a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), a Lontra (Lontra longicaudis) e o Furão (Galictis vittata) espécies as quais faz anos que não as vejo nessas águas, entre outros; mas o que me dá mais esperança é quando acesso alguns grupos ativos da cidade como o Movimento KDÊ e vejo gente preocupada em busca de solução para acontecimentos periódicos como a súbita morte em massa de peixes e cágados nesses cursos d’água.
Por esses e outros motivos venho pedir a ajuda de todos para cobrarmos a devida providência dos representantes públicos e não só a instalação de uma perícia quando ocorrer eventuais fenômenos antrópicos como o recente caso de mortalidade em massa de peixes e cágados, que por sua vez, não foi o primeiro e sim, mais um rotineiro evento. Precisamos mesmo é da retirada dos esgotos que vem sendo despejados de maneira colossal nesses ribeirões, de uma avaliação real do estado do rio e seu entorno, da recuperação da suas matas ciliares nos locais em que o mesmo seja possível, do monitoramento constante da qualidade de suas águas, de projetos de reintrodução e no mínimo da conservação da fauna e flora locais, de projetos e eventos que envolva Educação Ambiental para que a população passe a vê-los com outros olhos e pare com essa cultura horrorosa de pensar que os mesmos são lixões a céu aberto, e por esse motivo possam jogar sacolas plásticas com lixos domésticos, sofás, camas, carcaças de animais domésticos, celulares, “aviões”, “tanques de guerra”, “foguetes espaciais”, entre outros.
Nós membros e gestores da APDA pedimos sua ajuda como cidadãos dessa maravilhosa cidade e preocupados com a saúde da mesma, para denunciar, afiliar em grupos que buscam soluções para tais problemas, participar de ações a favor dos nossos rios. Assim você não só ajudará a promover a melhoria da estética da cidade e sim garantirá o direito dos outros seres vivos que compartilham conosco esses cursos d’água e são obrigados a engolir diariamente toda nossa porcariada; preservar também as memórias de muitos moradores locais que tiveram o privilégio de fazer desses cursos d’água, locais como espaço de recreação e obtenção de alimento, e, quem sabe, também propiciar a essa e futuras gerações momentos os quais vale a pena ser lembrados nas margens desses importantes cursos d’ água de nossa cidade.
Grande Abraço!
Ambientalista de natureza, Biólogo em formação
Membro do corpo gestor da APDA – Associação Pedroleopoldense de Defesa do Ambiente